O Brasil enfrenta um cenário de desaceleração econômica em 2025, impulsionado pelo forte aumento da taxa de juros em curto intervalo de tempo. Apesar de o menor crescimento não configurar necessariamente uma recessão técnica, a economia deve perder ritmo de forma significativa. Essa é a avaliação de Adriana Dupita, vice-economista-chefe para mercados emergentes da Bloomberg, em entrevista ao Investing.com.
Desafios para o Banco Central
Segundo a economista, o Banco Central enfrentará múltiplos desafios em 2025:
- Inflação pressionada pelo setor de serviços e pelas incertezas da política comercial do governo Donald Trump.
- Desaceleração da economia, que pode elevar a taxa de desemprego, mas não o suficiente para atingir níveis não inflacionários.
- Definição da taxa terminal do atual ciclo de alta dos juros, além da avaliação sobre se e quando haverá espaço para cortes na Selic.
Dupita avalia que a inflação acima do teto da meta por seis meses consecutivos em 2025 pode pressionar o Banco Central, dificultando ainda mais um eventual corte na taxa de juros.
Projeções para a economia brasileira
A economista estima que o PIB brasileiro crescerá 1,7% em 2025, abaixo do consenso do mercado e das expectativas do governo.
“Mesmo que não haja recessão técnica, sair de um crescimento trimestral de 1,4%, 1,1% e 0,9% para uma ‘sensação térmica de zero’ já é ruim o suficiente”, afirmou Dupita.
Ela ressalta que o Brasil deve ter uma boa safra agrícola no primeiro semestre de 2025, o que ajudará a sustentar o PIB, mas não impedirá uma desaceleração significativa da economia.
Impacto no desemprego e na inflação
A taxa média de desemprego de 2024 foi a menor da história desde que o método atual de medição foi adotado. No entanto, para 2025, espera-se um aumento.
“A grande questão é saber o quanto a taxa de desemprego vai subir e se será suficiente para influenciar a inflação”, destacou a economista.
Apesar do esperado aumento do desemprego, a inflação de serviços deve continuar elevada. Segundo Dupita, o alívio inflacionário dependerá da taxa de câmbio e dos preços das commodities, que estão atrelados às decisões comerciais e econômicas dos EUA e da China.
“O Banco Central precisa que os modelos apontem uma inflação próxima de 3% para começar a cortar a Selic, o que exigiria uma forte valorização do real ou um aperto monetário ainda maior”, disse Dupita.
Expectativas para a Selic
- O Banco Central pode interromper o ciclo de alta dos juros caso a desaceleração da economia seja mais intensa do que o esperado.
- No entanto, para iniciar cortes na Selic, será necessário um cenário de inflação muito mais controlado, algo que ainda não está evidente nos modelos econômicos.
“Se os modelos passarem de projetar 4% para algo em torno de 3,2%, isso pode abrir caminho para um corte inicial nos juros”, explicou a economista.
Com isso, a decisão sobre a taxa Selic dependerá de como a inflação e o câmbio se comportarão nos próximos meses.