O dólar apresentou uma valorização discreta em relação ao real nesta terça-feira, acompanhando as tendências dos mercados globais. O movimento reflete um aumento na aversão ao risco entre os investidores, impulsionado pelo recente alerta do presidente russo, Vladimir Putin, aos Estados Unidos, relacionado a mudanças estratégicas na doutrina nuclear russa.
Por volta das 9h33, o dólar à vista subia 0,15%, sendo negociado a R$ 5,7569 na venda. Na B3, o contrato futuro para o vencimento mais próximo também registrava alta, com um avanço de 0,10%, cotado a R$ 5,761 na venda.
Putin sancionou mudanças significativas na política nuclear russa nesta terça-feira, flexibilizando as condições para um possível ataque nuclear. A nova diretriz autoriza o uso de armas nucleares caso a Rússia enfrente uma ofensiva convencional com apoio de um Estado nuclear. Essa decisão ocorre poucos dias após o governo do presidente norte-americano, Joe Biden, permitir o uso de mísseis fabricados nos Estados Unidos pela Ucrânia em ataques contra o território russo.
A intensificação das tensões no conflito Rússia-Ucrânia, que completa mil dias nesta terça-feira, continua a impactar o apetite por risco nos mercados financeiros globais, incluindo câmbio e ações. Esse cenário tem impulsionado a busca por ativos considerados seguros, como o dólar.
O índice do dólar, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas principais, registrava alta de 0,17%, alcançando 106,400 pontos.
As moedas emergentes, tradicionalmente mais suscetíveis à volatilidade em momentos de incerteza, têm sofrido os maiores impactos. Entre elas, destacam-se desvalorizações frente ao dólar em países como México, África do Sul e Chile.
“O real tem mostrado desempenho inferior às moedas de refúgio neste contexto, uma vez que a aversão ao risco continua predominante nos mercados, impulsionada pelo receio de uma possível escalada no conflito entre Rússia e Ucrânia. Contudo, até agora, o movimento do dólar tem sido relativamente contido”, analisou Eduardo Moutinho, especialista de mercados no Ebury Bank.
Segundo Moutinho, “é provável que essa dinâmica se mantenha enquanto os mercados interpretarem as mudanças na doutrina nuclear de Putin como uma ameaça, e não como um passo concreto em direção a um conflito mais amplo ou ao uso efetivo de armas nucleares.”
Enquanto isso, os mercados globais seguem atentos à indicação do secretário do Tesouro nos Estados Unidos pelo presidente eleito Donald Trump. A disputa pelo cargo, que ganhou força após o final de semana, reflete a busca por direcionamentos econômicos claros.
A expectativa em torno de uma nova política econômica nos EUA, com a combinação de cortes de impostos e imposição de tarifas, tem alimentado a valorização do dólar, visto que tais medidas podem pressionar a inflação.
No Brasil, os investidores continuam atentos ao aguardado pacote de contenção de gastos do governo federal. A demora na apresentação das medidas, prometidas após o segundo turno das eleições municipais, tem gerado incertezas e impactado negativamente os ativos nacionais.
Em entrevista divulgada no domingo pela Times Brasil/CNBC, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assegurou que o pacote está praticamente concluído e deve ser anunciado em breve, restando apenas a validação final por parte do Ministério da Defesa.