Dólar recua mais de 1% após BC vender US$ 8 bilhões em dois leilões

O dólar iniciou esta quinta-feira (19) em queda de 1,6%, cotado a R$ 6,1679 por volta das 11h07, após o Banco Central (BC) realizar dois leilões de venda à vista de dólares. A atuação da autarquia acontece em meio a fortes oscilações cambiais e preocupações com o cenário fiscal do Brasil.

 

Na quarta-feira, o dólar havia encerrado em alta de 2,78%, marcando R$ 6,2679, o maior valor nominal de fechamento da história.

 

BC amplia intervenção no câmbio

 

Logo no início da manhã, o Banco Central realizou um leilão de US$ 3 bilhões à vista, seguido de outro, de US$ 5 bilhões, minutos depois. Somadas, essas operações elevaram a intervenção cambial para mais de US$ 20,75 bilhões desde a última quinta-feira (12), incluindo leilões à vista e leilões de linha com compromisso de recompra.

 

O segundo leilão foi responsável por trazer alívio ao mercado, reduzindo a cotação do dólar, que vinha se mantendo em patamares históricos, mesmo após as primeiras operações de venda.

 

Cenário fiscal pressiona o real

 

A desvalorização do real reflete as preocupações dos investidores sobre o controle fiscal do governo. O atraso na votação de medidas de contenção de gastos no Congresso Nacional aumenta as incertezas. Entre elas, destaca-se a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe o acesso ao abono salarial, prevista para votação nesta quinta-feira.

 

“Enquanto não houver definição clara sobre como serão feitos os cortes, o mercado continuará pressionando o real”, afirmou Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

 

Perspectivas econômicas

 

As atenções do mercado também se voltaram para o Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta manhã. O documento revelou uma piora significativa na projeção para a meta de inflação de 2024, com o Banco Central estimando uma probabilidade de quase 100% de o índice superar o limite de tolerância, contra uma projeção anterior de 36%.

 

O IPCA subiu 0,39% em novembro, acumulando alta de 4,87% nos últimos 12 meses. Para fechar o ano dentro da meta de 4,5%, o IPCA de dezembro precisaria avançar no máximo 0,20%, segundo o IBGE.

 

No mercado de juros, a curva segue pressionada, com operadores precificando um aumento da Selic de até 1,75 ponto percentual na reunião do Copom em janeiro, apesar do guidance inicial do BC, que indicava uma alta de 1 ponto.

 

Cenário internacional favorece dólar

 

Externamente, os mercados reagiram à decisão do Federal Reserve (Fed), que reduziu os juros em 0,25 ponto percentual na quarta-feira, mas sinalizou uma abordagem cautelosa para 2024.

 

“Estamos em um ponto onde os riscos estão equilibrados, e a inflação exige progresso gradual”, afirmou Jerome Powell, presidente do Fed.

 

Essa postura limita os cortes futuros de juros nos Estados Unidos, mantendo os rendimentos dos Treasuries atrativos e estimulando a valorização do dólar frente a moedas de países emergentes, como o real.

 

O índice do dólar, que mede a força da moeda americana frente a seis divisas principais, recuava 0,27%, situando-se em 107,970.